8.8.12

TRIBUTO AOS HOMENS DO TAMBOR "o canto e o som do batuque"


                                                                                    (texto transcrito , João Carlos D`eodé )

Em toda a minha vida religiosa conheci um cem número de Tamboreiros, cada um com suas particularidades, características e personalidade.Posso citar alguns nomes, mas tenho medo de pecar no esquecimento de outros tantos que fizeram nome e tornaram-se verdadeiras lendas.Para isso vou usar de um critério que penso me tornará imunes as criticas, ou seja, a de citar unicamente os que eu vi e ouvi tocar e cantar.Sempre existira os que não vi, e não conheci, mas vou me restringir aos que tocaram em minha época e dentro do que eu denomino: A Grande Porto Alegre, (Viamão, Novo Hamburgo, Canoas, São Leopoldo, Sapucaia, Cachoeirinha e adjacências).Entre os Tamboreiros, existe aquele que ficaram para história, cada um em sua época, definiram e regeram tudo que existe de belo dentro do canto e toque do Batuque. Para estes devia existir uma placa de honra ao mérito pelo tudo que eles fizeram pelo Batuque.Ali no Partenon conheci um tamboreiro de nome Borel, que fez escola para tudo que existe dos anos cinqüenta aos anos setenta. Poderia ter havido mais perfeição no canto, nas pancadas que evocam os Orixás, mas as mãos e a voz daquele homem superaram tudo que existiu de mais divino dentro do canto das rezas. Na época eu era um Buri dos anos sessenta e que eu tive a felicidade de me iniciar vendo ele tocar. Um nome que alguém dificilmente esqueceria era do seu Tesourinha, tive a felicidade de participar da festa dos setenta e cinco anos de feitura de seu Orixá Ogum e ser agraciado com seu axé.Nesta ocasião ele morava em Florianópolis e nesta ocasião já de idade avançada, com inúmeros problemas de saúde, e pela diabete estava cego, ao me aproximar e bater cabeça e receber o abraço do pai Ogum, este passou a mãos em meu rosto e me reconhecendo disse-me: “Deodé não tenha medo eu estarei sempre contigo”.O Tamboreiro Oficial da casa de minha mãe Miguela de Bará Agelú chamava-se Micharia, trabalhava na Prefeitura de Porto Alegre. Com ele viajei para Santo Ângelo para inúmeros Batuques em casa de mãe Lilá de Bará lodê.Um dos mais antigos era o nego Zé, filho carnal de mãe Chininha de Yansã, tocou ali no Partenon e deixou muitos alunos de sua escola, era dos poucos que tirava as rezas para o lado do Oió. O Tamboreiro oficial de meu irmão Gelson de Bará Lodê era o negro Tadeu, tornou-se Tamboreiro de mãe Eva de Oxum, naquela casa tocou por vários anos.Um dos mais destacados do Partenon era o Cláudio Barulho, este inclusive fez nome como puxador de samba no Carnaval Porto-alegrense.Carlos de Ogum esposo de Lurdes de Oxum é um nome a se destacar e seus filhos também fizeram escola em Viamão.Aguardamos com uma certa ansiedade os nomes do novo milênio.
Dentro do que era o toque ritualístico o qual eu passo a chamar: “o som do batuque”, dos anos sessenta existia uma maneira de tocar, mas no começo dos anos setenta começou as inúmeras transformações que se não modificaram o essencial dos fundamentos escancaradamente uma energia e performance diferente de tudo que até então se ouvia do som do Batuque.
Não estou falando dos toques (queflê, agueré, odan, locori, tamborinete), não, nada disso modificou, o que modificou a partir dos anos setenta, parece que as pessoas esqueceram, foi à força do toque, a pancada, a batida que chegou com mais força, mais energia.
Não quero ser injusto ao citar o nome de quem começou as modificações, mas para mim que sempre estive observando e estudando o som do batuque, e os grandes mestres do toque e do canto, o grande mentor destas transformações foi o Tamboreiro Carlinhos. 


Sim, era este o nome da fera, aquele menino tocava com uma energia nunca vista, com uma força descomunal, e o mais importante com um largo sorriso estampado naquela enorme boca, a escancarar de orelha a orelha tudo de sua felicidade e satisfação pelo trabalho que executava, se é que ele considerava trabalho tocar para evocar os Orixás. 
O Carlinhos era um belo exemplar da raça negra, corpo atlético, mais parecendo um atleta do Box, braços fortes e mãos de dedos longos, 1.85 cm, tudo nele representava força e energia. 
Tudo me leva a crer que os Orixás haviam moldado aquele tipo físico só para tocar para eles.
Fui num Batuque só para vê-lo tocar, seu nome já era uma lenda viva e para minha surpresa vi ele colocar o tambor no meio das pernas e com uma pequena corda em volta da cintura amarrar para melhor fixar o tambor, para no gesto seguinte dar umas pequenas pancadas em toda a borda do tambor e a seguir pedir agô e despencar a madeira, e põe madeira nisso. Mas ba tchê que cosa de loco.
Eu que nunca tinha participado de uma festa tocada por ele sai dali com o lombo arrepiado de tanta vibração e emoção. 
A partir daquela noite fiquei com certeza que o toque do Batuque nunca mais seria o mesmo, tínhamos avançado uma etapa e as modificações tinham chegado para ficar. 
O toque do Batuque teria mais força e energia.
Até aquela data ninguém se atreveria a por o tambor no meio das pernas e amarrar na cintura, todos tamboreiros tocavam com o tambor deitado sobre uma toalha em cima dos joelhos ou embaixo do braço.
Para mim nunca em tempo algum alguém vai ocupar seu lugar, tanto que os Orixás ouvindo tanta beleza, amor e devoção o chamaram bem cedo para ir morar no Orun, não podiam esperar para vê-lo tocar somente aos sábados, queriam ouvi-lo todos os dias, e lá se foi o Carlinhos de Oxum tocar somente para os Orixás.
Existem vários estudiosos deste assunto com livros publicados, faço questão de citar o professor Braga com o seu magistral livro (nome do livro) que trouxe uma riqueza imensa contribuindo para o verdadeiro conhecimento dos Fundamentos do toque dentro do Batuque, pena que nossos Tamboreiros não leiam. 
Existe uma particularidade que devemos destacar em respeito aos tamboreiros mais antigos, cada um procurava conhecer mais profundamente o toque e o canto dos Axés (rezas) de seu lado (nação) Ijexá, Cabinda, Oió, Jeje com Ijexá. Muitos deles negava-se terminantemente tocar para outro lado (nação), que não fosse de seu conhecimento.
Hoje em sua maioria toca uma mistura de som e canto pouco identificável, o que minha vó Jovita vaticinou há trinta anos atrás: “se este meninos não estudarem as rezas um dia o som e o canto do Batuque será uma doce salada de frutas”. No que ela mais uma vez acertou!
Cada tamboreiro criou seu próprio repertorio, não obedecendo ao critério principal que é a seqüências das rezas e o lado que a identificara perante os participantes.
Tem os que têm a cara de pau de perguntar a que horas o dono da casa quer que termine a festa? Ora... Bolas à festa têm que terminar a hora que tirar a ultima reza para Oxalá. Independente disto à maioria desconhecem o repertório e a seqüência das rezas. E é um tal de comer rezas, suprir algumas, talvez pela dificuldade de canta-las ou por erros na pronuncia e sonância mais difícil, mastigar algumas, enrolar muitas tantas.
Um critério que a maioria malandramente tomou por habito é cantar o que o povo canta, ou seja, se cantar uma reza e não tiver resposta, passa batido e salta para outra. Como a maioria das rezas o povo desconhece e quer me parecer tem preguiça e vergonha de cantar errado, terminam por não responder, resultado: o canto do Batuque termina por sair picotado. Tem-se a nítida imprensam que faltou alguma coisa e terminamos por sair frustrado de muitas festas. Falha imperdoável.
Fico impressionado com a cara de pau de alguns ainda esperarem elogios.
Todo pai de santo sempre se acha melhor que os outros, mas caso dos tamboreiros atuais, esta característica e acentuada. Todos, sem exceção, se sentem melhores que os mais antigos. Ai é dose ter que agüentar estes estrelatos.
O som do Batuque virou um grande comércio, por cinco salários mínimos, é o cachêzinho que a maioria dos tamboreiros cobra nos dias atuais, pode se dar o luxo de escolher quem se quer para tocar nossas festas de Batuque.
Com exigências que extrapola as raias do ridículo, (passagens de avião, hospedagens em hotel cinco estrelas, pagamento via doc. do Banco do Brasil, pagamento de um auxiliar) com abuso que fariam minha vó matar um desgraçado destes com feitiço. O que se vê e que o tamboreiro quer ser mais importante que o que o pai de santo.
O pessoal do interior é o que mais sofre.
Tens uns que quando vão tocar no interior levam a amante e se hospedam em bom hotel, isto significa que o Batuque vai terminar mais cedo, pois ele invariavelmente tem pressa de retornar ao hotel.
Mas tem uma raça desgraçada que para falar nestes, vou abrir um parêntese novo. São os que se ocupam (recebem Orixá). Bem, estes são de doer ter que suportá-los, pois estes infelizes recebem estas coisas nas aspas para dizer bobagem para os filhos de santo da casa onde teve o desprazer de tê-los como tamboreiro. Falando um monte de asneiras e confirmando cabeças e citando fundamentos como quem dá receita de bolo, ensinando feitiços, por ai segue a ladainhas destas porcarias, que no fim a pessoa que os contratou se arrepende.
Lembro-me bem de um fato pitoresco que aconteceu na casa de minha avó que passo a relatar. Em principio minha vó odiava tamboreiro que recebesse santo (ocupar-se). Dizia ela: Tamboreiro é tamboreiro, pai de santo é pai de santo, o resto é pura invenção de quem quer aparecer.
Mesmo sabendo de antemão que a vó não gostava destas elucubrações, o Orixá de um tamboreiro, tinha o mal habito de no meio do Batuque chegar e entrega o tambor para um secretario e se punha a dançar. A pobre da vó enlouquecia, mas fazer o que? Dependia daquele infeliz, tinha que agüentar. Mas a coisa foi ficando difícil de suportar.
Até que uma noite de festa grande ela não agüentou mais e me chamando dize: “Deodé, vai lá no meio do salão e me traga o Bará do tamboreiro”. Fui com tudo e pegando pela mão do Orixá convidei-o a ir até a cozinha, onde a vó estava a nós esperar. A vó então falou: meu paizinho eu estou com a casa cheia de visitas e o senhor chegou e entregou o tambor a um menino que esta estragando minha festa, a responsabilidade é do seu filho.O Bará metido a besta quis dar o ar na negra velha, citanda alguns fundamentos.
-Dona Jovita eu não poderia deixar de me fazer presente em tão rica oportunidade, minha chegada é a confirmação de sua obrigação.
Deu! A negra enlouqueceu e subiu nas tamancas.
O que! Eu Jovita de Xangô cem anos de Batuque precisar da chegada de um Bará Lodê na cabeça de um tamboreiro para confirmar os meus fundamentos. O que faço ou não faço em minha casa, só a mim diz respeito, mas era só o que me faltava, mas isso é uma pouca vergonha, mas a que ponto a gente chegou, por meu pai Xangô, mas me desculpe, mas tenho que tomar uma atitude.
E foi pra já, a negra velha deu de mão na gola da camisa do infeliz e proferiu a sentença final.
-O senhor ponha-se para a rua, e me devolva o sem-vergonha do seu filho, porque eu paguei, e olha que paguei bem caro para ele tocar. Este infeliz vai entregar minha obrigação nem que eu tenha que dar uma surra de rabo de tatu nele, este desgraçado tem que ter responsabilidade com seus compromissos, e de mais a mais eu não lhe convidei para dançar e ponha já da minha frente se não vai sobrar para o senhor também.
O Bará do negrão foi-se inteiro não quis entrar em achêro. Com a maior cara deslavada do mundo voltou a tocar. Só que desta vez o som e o canto tinham melhor qualidade.
Para eximir qualquer duvida minha avó Jovita de Xangô tinha dependurado na porta do quarto de santo um relho rabo de tatu. Perguntada a razão ela fazia a questão de responder: “Isso é para amansar burro chucro e tamboreiro que se faz de louco”: E um conselho que minha vó não cansava de dar a seus tamboreiros: “Onde se ganha o pão, não se come à carne e quem toca para exu não toca para orixá”.Para boa entendedora meia palavra basta e um pingo é letra.
Já era tempo dos atuais pais de santo terem a porta de seus quartos de santos um rabo de tatu. Assim teremos certeza que se não melhorar o som do Batuque pelo menos trará mais dignidade e respeito à profissão de tamboreiro.

RAIZES DE GEGÊ - PRINCÍPE CUSTÓDIO DE XAPANÃ SAKPATÁ ERUPÊ


Da tribo pré-colonial Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin-Nigéria. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho primogênito do Obá Ovonramwen.
Obá Ovonramwen, Oba de Benim (pai do principe Custódio)
Envolto numa aureola de nobreza autentica viveu muitos anos em nossa capital uma figura estranha e original que conservou todos os seus hábitos de origem e todos os ritos extravagantes de sua seita negra. O Príncipe, como comumente era conhecido entre nos, se constituiu logo em um semideus para os homens da sua raça. O seu credo traduzia a crença daqueles em cujas veias existiam ainda uma gota de sangue dos seus antepassados africanos.  Teve prestigio e forca. Os seus 104 anos foram inteiramente entregues aos seus irmãos de origem. Dentro de uma sincera reverencia aos deuses que a imaginação quente e primitiva de sua raça foi criando, não desamparou nunca os seus adeptos fervorosos.
Agora, entre os seus discípulos da seita negra, um luto se levanta. Todos choram a morte do Príncipe de Ajuda. O Príncipe morreu!  Rolando o seu corpo rijo e frio, houve um estremecimento forte na crença e na esperança de seus adeptos. Eles pedem para os seus deuses um continuador do seu mestre. O Príncipe trazia em seu sangue uma origem ilustre. A sua estirpe foi nobre. O governo inglês mandava lhe pagar mensalmente, por intermédio do respectivo consulado nesta capital, a subvenção que lhe era devida na qualidade de Príncipe de São João de Ajuda, território que esta sob o domínio da referida nação. O Príncipe morreu e as preces sobem aos Orixás. (Transcrito de “A Federação”, de 26 de maio de 1936).

origem:

São João Batista de Ajuda era uma fortaleza portuguesa no Daome. A feitoria de São João Batista de Ajuda estava situada a cinco quilômetros da costa africana de Leste ou dos “Papos”, entre os rios da lagoa e do Volta, tendo sido descoberta pelos portugueses quando navegavam na costa da Guine. Era a capital do antigo Reino de daome, edificado numa vasta planície outrora muito povoada de cristãos negros.  O rei D Pedro II de Portugal mandou construir a referida fortaleza a fim de proteger o importante comercio que então os portugueses faziam na Costa da Mina.  A Costa da Mina era um território a beira do Oceano Atlântico no golfo da Guine. Foi ocupado pelos Ingleses que ali estabeleceram importantes feitorias, que passaram a ser defendidas pelas guarnições das fortalezas antes pertencentes a Portugal, entre as quais a de São João Batista de Ajuda.
Daome tem fronteira de um lado com a Nigéria, que e o maior pais da África atual e do outro, com Togo, possessão alemã de antes da primeira guerra mundial, este velho reino africano no começo foi colônia de vários países que se estabeleceram ao longo do seu território a margem do Atlântico, mas em 1876 a Grã-Bretanha terminou a ação que iniciara alguns anos antes, comprando a parte dos demais ocupantes, tornando, então, a Costa do Ouro inteiramente de propriedade dos ingleses, os quais também tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que governam o gentio. Desta determinação britânica resultou a deportação de um rei africano, que somente em 1934 teve autorização para voltar a fim de passar sossegadamente o resto de seus dias na terra natal.
Oba Ovonramwen, escoltado no navio,sendo deportado.

 povo. Entre estes estava o Príncipe de São João Batista de Ajuda, que deixou sua terra na Costa da Mina em 1862 quando tinha 31 anos de idade.
Ninguém sabe como e em que circunstancias este príncipe governante deixou o Porto de Ajuda, que era perto da Costa do Ouro (hoje Republica de Gana), onde em algumas décadas anteriores, funcionava um dos principais locais de embarque de escravos para o Brasil, mas o certo e que ele partiu ante a promessa solene dos ingleses de que o seu povo não sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses. Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guine e com as ilhas de São Tome e Príncipe, cCom outros governantes foram feitos acordos financeiros por eles aceitos a fim de ser evitado o massacre do seuedendo as suas fortalezas.
As condições para que o Príncipe de Ajuda não oferecesse qualquer resistência aos invasores, alem do respeito pela vida dos seus súditos, era a de que ele se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios.  E, como parte do convenio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse por intermédio dos seus representantes consulares. Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil como sua nova pátria, não se sabe.  Talvez por haver aqui grande numero de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina, os chamados “Pretos Mina” ou outra razão qualquer. Sua chegada a nossa terra foi assinada como acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajuda.
Inicialmente fixou-se em Rio Grande, onde residiu longos anos, transferindo-se mais tarde para o interior do município de Bagé, onde logo ficou popular por manter viva a tradição religiosa do seu povo, com a pratica o que agora se conhece como Batuque, alem de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da nossa flora medicinal, atendendo muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.


relato:

Em Bagé, existe um bairro chamado "Passo do Príncipe", em alusão ao seu nome e ainda existe uma "tapera" abandonada em meio a um terreno.  Dizem algumas pessoas que o espírito do Principe ainda ronda o local.
De Bagé mudou-se para Porto Alegre, aonde chegou em 1901 com 70 anos de idade. Era um homem forte, cheio de vida com um metro e noventa de altura o que ainda mais se evidenciava quando usava as vestes originais da sua gente e colocava na cabeça um “fez” de cor encarnada que lhe aumentava pelo menos mais 
vinte centímetros na altura.
Foi morar na Lopo Gonçalves numero 498,(A antropóloga Maria Helene Nunes ( URGS) em sua tese, diz "Custódio era negro, príncipe e babalorixá. através da religião fazia curas e resolvia problemas de toda ordem"). cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos (hoje Joaquim Nabuco). Esta artéria era chamada “dos Venezianos” não por causa da popular sociedade carnavalesca que por muitos anos existiu em nossa capital, mas por ter suas casas quase que totalmente habitadas por italianos oriundos da Sicilia e da Calábria, que o vulgo confundia com venezianos (de Veneza), mas logo que o príncipe que havia adotado o nome brasileiro de CUSTODIO JOAQUIM DE ALMEIDA, ali se instalou, passou a rua ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se do homem que, incontestavelmente, era líder da sua raça. O príncipe Custodio como então era chamado, iniciou ali uma nova etapa da sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno de um verdadeiro fidalgo. A família do príncipe de Ajuda aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o numero de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.
Os fundos da casa onde morava, com saída na Rua dos Venezianos, serviam para a sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove cavalos de raça, alguns impostados da Inglaterra, os quais todos os domingos disputavam as corridas organizadas pela Protetora do Turfe no Prado da independência. Para manter e cuidar esses animais havia um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão direta do Príncipe, que se classificava como “Tratador”.  Nos domingos, os cavalos inscritos nos diversos páreo saiam da Rua dos Venezianos, devidamente cobertos por capas tendo as cores oficiais do seu dono e rumavam pela Rua da concórdia em direção a Venâncio Aires, subindo, apos, uma das ruas que ligam o Bonfim a Independência ate chegarem ao Prado nos Moinhos de Vento. O Príncipe custodio teve oito filhos, três homens e cinco mulheres, uma delas residindo em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porem podia expressar-se fluentemente em inglês e Frances, alem de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado.  Gostava de ir pessoalmente as compras, quando isso acontecia, se fazia acompanhar de dois fortes homens, os quais alem de o custodiarem, serviam para transportar as mercadorias compradas em grandes balaios.
As festas que levava a efeito periodicamente em sua casa, notadamente na data de seu aniversario, eram verdadeiramente pantagruelicas. Durante três dias, com o prédio sempre cheio de gente, da manha à noite, se comia e bebia do bom e do melhor ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. E nesses dias, o Príncipe recebia a visita de gente mais ilustre da cidade, inclusive do presidente do estado Borges de Medeiros que, conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa.  Naquelas festejadas datas era certo o comparecimento na Rua Lopo de muitas senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, alem dos capitães da indústria e do comercio que dele precisavam o apoio para perigos de greves e outras imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa, especialmente destinadas a serem degustadas naquelas ocasiões especiais, embora elas nunca faltassem à mesa do Príncipe exilado.
A casa do Príncipe vivia sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava nas ruas e lhe pediam auxilio. Mandava essas pessoas embarcarem na carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência, onde sempre havia lugar para mais um.  Entre os que viveram muito tempo junto ao homem meio gigante da Rua Lopo, estava um branco, descendentes de alemães oriundo de São Sebastião do Cai, que tinha feito estudos de medicina e dessa maneira o auxiliava no atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca de remédios e dos “trabalhos” do chefe africano no exilado.
Para os rigores do inverno, o príncipe Custodio adotou o poncho gaucho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua personalidade, não deixando nem quando visitava o palácio da Praça da Matriz onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom atendimento, e onde ele muitas vezes usava seu prestigio para conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro da sua comunidade..
Durante todos os anos em que viveu em Porto Alegre, 31 ao todo, nunca manteve correspondência ostensiva com parentes ou amigos deixados nas terras africanas. De la recebia informações e daqui enviava noticias suas em mãos por intermédio de marítimos que tripulavam navios vindos a nossa metrópole, transportando e levando mercadorias.
Também nunca se soube o teor dessas correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião não era, pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Alem disso a Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico local, entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam aqueles que o procuravam nos momentos de apertos financeiros.
No verão, em janeiro, o programa era conhecido.  Todos iam para a casa de propriedade do Príncipe, na Praia de Cidreira. A viagem para o balneário era qualquer coisa de sensacional e folclórico. Embora fosse dono da carruagem e tivesse dinheiro para alugar quantas diligencias quisesse, o príncipe gostava de viajar em carretas puxadas por bois na mais calma e na mais incrível lentidão. E ainda mais, a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de Porto Alegre a Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do Príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e tratador fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa já viu foi quando o Príncipe completou cem anos de idade. Nesse dia muita gente de bem foi abraçá-lo em sua casa e ele, dando demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber qualquer ajuda. Alias, isso ele fez ate poucos dias antes da sua morte, quatro anos depois.
 
No dia 26 de maio de 1936, morreu o príncipe Custodio, aos 104 anos. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos trabalhos em intenção a sua alma.  Com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes e esquisitas da nossa cidade. Um metro e noventa de altura, com mais de cem quilos de peso, embora não fosse um homem gordo. E muita gente ficou desamparada, pois a subvenção paga mensalmente em libras pelo governo inglês extinguiu-se com a morte do Príncipe de Ajuda. Se foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos os adeptos dos cultos africanos (de quase todas as bacias) fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás. Isso de certa forma indica que se não foi o introdutor das raízes africanas no estado deve ser um dos primeiros.      ( fonte: A federação)
MÃE CHININHA DE XANGÔ AGANDJÚ IBEIJIS

JOÃO DE BARÁ AGELÚ NÍ BÍ  (Exú By)
Quando se fala em Nação Jêje do Rio Grande do Sul, logo vem o nome do Pai de Santo mais famoso desta nação que foi o Pai João de Bará Ni Bi (Exu Bý), que sem dúvidas foi a maior expressão Jeje. Conhecido no Brasil e em outros países, filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Agandju Ibeijis. Pai João do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo. Ensinava muito bem seus filhos a puxar as rezas dos Orixás e a tocar tambor. 
Ele tinha uma técnica de ensinar os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os agidavís. João de Bará e Tia Licinha, sua irmã, tocavam Jêje juntos, e diziam na época que era um dos melhores rituais quando esses dois se juntavam na mesma obrigação.Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo vodun com o passar dos tempos, deixou de existir; mas é certo que a linguagem utilizada nas rezas e o uso das AGIDAVIS, para toque dos tambores RUM - RUMPI e LÊ (instrumentos de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Daomé.

Há casos em que as tradições culturais africanas resistem mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante. O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Voduns no Rio Grande do Sul.

PAI NELSON DE XANGÔ OROFOMI
No dia 25 de agosto de 1924, em Porto Alegre, nasciam Nelson e Wilson Gomes, filhos gêmeos. 
Logo ao nascerem ficaram órfãos sendo criados por seu Avô materno Antoninho de Oxalá, um servidor da linha Jeje.  Estes dois meninos foram entregues a Xangô e Oxum respectivamente.  Nelson para Xangô com Oxum e Wilson para Oxum com Xangô.
Nelson de Xangô foi filho de Santo do Avô Antoninho de Oxalá até chegar as mãos de Pai João de Bará Agelú Ni Bi.



6.8.12

"Rituais de Aprontamento"..



Bori de Aves
Para alguns, a principal obrigação do Batuque. Nesta obrigação, após jogada e confirmada nos Búzios a cabeça e passagens (corpo, pernas, etc) do filho será sacrificado sobre sua cabeça a ave(galo ou galinha e pombo ou pomba) específica de seu Orixá, no seu corpo outra ave correspondendo ao Orixá que cuidará desta passagem. Nesta obrigação o filho-de-santo estreita sua relação com o Orixá, concebendo também uma forte raiz dentro da Nação Batuqueira, tendo em um pote (estilo bomboniere), denominado de Bori, uma moeda, búzios e mel a representação de sua cabeça ligada ao seu Orixá, tornando-se assim um filho da Religião.
Bori de Quatro-pés
Seria uma graduação e maior estreitamento com seu Orixá dentro da Religião, nesta obrigação além das aves, serão sacrificados no Bori também os animais de quatro patas (cabritos, ovelhas, etc) referente a cada Orixá.
Assentamento da Vasilha sobre Acutá ou Alcutá
Assim como a Umbanda tem sua força representada nos vegetais a Nação além disto apresenta a forma mineral para representar seus Orixás. Os acutás, (cada Orixá possui seu modelo e tipo) são pedras colocadas em uma vasilha de barro com as ferramentas de cada Orixá, onde, após o sacrifício de seus animais de pena e quatro patas, será a sua representação.
Aprontamento de Ofá (Búzios) e Obé (faca)
Nesta graduação o filho-de-santo se prepara para em futuro próximo ser um Pai-de-Santo. Consiste em assentar na vasilha todos Orixás de Bará até Oxalá, o filho então além de ter sua “cabeça” e suas passagens, passa agora a ter todos os Orixás com nome e sobrenome, sento em vasilhas representados em seus acutás e ferramentas. O futuro “pronto” preparará também neste ritual, sua faca, que futuramente usará em sacrifícios para seus futuros filhos e seus búzios, ferramenta esta que usará para guiar a sua vida e dos seus, quando tiver montada sua Casa de Religião.
Alguns mencionam ainda o Mieró como primeira obrigação, feito somente com ervas, e o Aribibó que antecede o Bori de Aves e é feito somente com pombos. (Ritual de Cabinda).
A Festa do Batuque
Após as obrigações cumpridas e encerrada a Levantação (nome dado ao término das obrigações pois como diz a palavra, será levantado todas as frentes que ficaram em um determinado tempo dentro do Quarto-de-Santo), será tocada a Festa, o Batuque.
Normalmente como em uma festa social, muitos convites foram distribuídos para outras Casas de Religião, fiéis e até mesmo curiosos.
O Pai ou Mãe-de-Santo, ajoelhado em frente ao Quarto-de-Santo (lugar onde fica os assentamentos dos orixás), juntamente com todos seus filhos e demais convidados de Religião, tocando a sineta, faz a chamada de todos os Orixás de Bará a Oxalá com suas saudações específicas, pedindo a cada Orixá as coisas que a eles competem. Terminada a chamada, o Pai-de-Santo autoriza o tamboreiro a começar o toque, que correrá em ordem de Bará a Oxalá. Todos que estão na roda dançam com as características de cada Orixá ao qual está sendo tocada a reza, como por exemplo na reza do Bará, todos dançam como se abrindo portas com uma chave em punho na mão direita, já que este Orixá é o dono da chave e abertura dos caminhos, na Reza do Ogum, os fiéis dançam com a mão direita como uma espada tocando a mão esquerda.
Dentro da Festa existem rituais específicos que chamados  de “Axé”, como por exemplo:
Axé da Balança:
Se a Obrigação que originou a Festa teve o corte de quatro-pés, deverá ser realizada dentro das Rezas para Xangô a Obrigação da Balança. Neste ritual o tamboreiro para o toque, para que o Chefe da Casa organize a roda, neste momento normalmente o salão esvazia, pois acredita-se ser um ritual muito perigoso, pois, todos dançaram de mãos dadas, todos de frente para o centro da roda, onde calmamente será tocado pelo tamboreiro a Reza específica para este Axé (alujá) e todos começarão um movimento de abrir e fechar esta roda, acompanhando o toque do tambor que irá acelerando gradativamente e com as mão bem seguras pois se arrebentar a Balança, deverá ser pedido misericórdia para Xangô para que nenhum filho venha a morrer. Neste momento até acabar o toque, se manifesta um grande número de Orixás e todos deverão se manter de mãos dadas até que o tamboreiro encerre a Reza. Somente participa da Balança filhos ou convidados que já possuam a Obrigação de quatro-pé.
Existem ainda outros Axés como por exemplo: Axé do Atã, Axé do Ecó e etc.
Após o Axé do Ecó, que será realizado após as Rezas de Xapanã, onde foi limpado e retirado da Casa todas as impurezas e vibrações negativas, começa o toque para os Orixás Velhos ou Doces, toca-se para Oxum, Iemanjá e Oxalá, terminando assim a Festa.
Normalmente o Batuque começa a meia-noite e estende-se até as seis ou sete horas da manhã, isto também é uma influência dos escravos, já que os negros na época da escravatura podiam fazer seus rituais somente após terminados seus trabalhos para os seus Senhores, ou esperar com que eles fossem dormir.
Axé do Ecó
O Ecó é uma mistura de certos ingredientes oferecidos aos orixás para servirem como imãs de energias negativas. São oferecidos ecós para os orixás Bará, Ogun, Oyá, Xangô, Oxun, Yemanjá e Oxalá.
Não é costume o uso de paramentas no Batuque (embora alguns usem e às vezes até estrapolam), somente saias rodadas e coloridas, guias (colares) e mais algum apetrecho, semelhante ao Tambor de Mina no Maranhão.
Algumas casas tem “misturas” de candomblé como o uso de pipocas nas rezas de Xapanã, ou profa de fogo com Xangô, mas os mais velhos dizem que isso é errado.

NAÇÕES..


A Nação Cabinda embora de origem bantu não cultua nkisis (muitos desconhecem esta palavra), mas sim Orixás, os mesmos de Ijexá, com acréscimo de algumas qualidades de Bará (Bará Legba) e Oyá (Oyá Dirã, Oyá Timboá) e o culto aos Eguns é muito forte nesta nação, tendo toda a casa de Cabinda o assentamento de Igbalé (casa dos mortos). Nesta nação os filhos de Oxun, Yemanjá e Oxalá podem entrar e sair dos cemitérios quando bem quizerem, sem que sua obrigação ou feitura seja prejudicada, diferentemente das demais nações, onde os filhos destes orixás só podem entrar em cemitérios quando for algo extremamente importante.
A Nação Jeje, assim como a Cabinda, adotou o panteão Yoruba dos orixás, que são os mesmos de Ijexá, sendo muito comum as casas de Jeje-Ijexá. Muitos sacerdotes da Nação Jeje do Batuque desconhecem a palavra Vodun, embora se tenha relatos de culto a algumas destas divindades antigamente. Os descentendes de Pai Joãozinho do Bará (Esú By) são os que mantém firme as tradições desta nação, como o uso de agdavís em seus rituais (chamado “Jeje de pauzinhos”), o assentamento de Ogun semelhante ao do Vodun Gun no Daomé, e existência de pessoas iniciadas para Dan e Sogbo. As cerimônias se iniciam com a parte Jeje (com cânticos no dialeto fongbe) e a dança em pares (simbolizando o par da criação Mawu-Lisa) e o toque com as “varinhas” e depois a parte Yorubá com as rezas tradicionais do Batuque.
A Nação Nagô é muito parecida com o candomblé tanto nas cerimônias como nas características dos Orixás. Nesta nação usa-se sacrificar os animais deitados e não suspensos como nas demais. Está quase extinta.

4.8.12

fazendo o que gosto!!!