8.8.12

RAIZES DE GEGÊ - PRINCÍPE CUSTÓDIO DE XAPANÃ SAKPATÁ ERUPÊ


Da tribo pré-colonial Benis, dinastia de Glefê, da nação Jeje, do estado de Benin-Nigéria. Seu nome tribal era Osuanlele Okizi Erupê, filho primogênito do Obá Ovonramwen.
Obá Ovonramwen, Oba de Benim (pai do principe Custódio)
Envolto numa aureola de nobreza autentica viveu muitos anos em nossa capital uma figura estranha e original que conservou todos os seus hábitos de origem e todos os ritos extravagantes de sua seita negra. O Príncipe, como comumente era conhecido entre nos, se constituiu logo em um semideus para os homens da sua raça. O seu credo traduzia a crença daqueles em cujas veias existiam ainda uma gota de sangue dos seus antepassados africanos.  Teve prestigio e forca. Os seus 104 anos foram inteiramente entregues aos seus irmãos de origem. Dentro de uma sincera reverencia aos deuses que a imaginação quente e primitiva de sua raça foi criando, não desamparou nunca os seus adeptos fervorosos.
Agora, entre os seus discípulos da seita negra, um luto se levanta. Todos choram a morte do Príncipe de Ajuda. O Príncipe morreu!  Rolando o seu corpo rijo e frio, houve um estremecimento forte na crença e na esperança de seus adeptos. Eles pedem para os seus deuses um continuador do seu mestre. O Príncipe trazia em seu sangue uma origem ilustre. A sua estirpe foi nobre. O governo inglês mandava lhe pagar mensalmente, por intermédio do respectivo consulado nesta capital, a subvenção que lhe era devida na qualidade de Príncipe de São João de Ajuda, território que esta sob o domínio da referida nação. O Príncipe morreu e as preces sobem aos Orixás. (Transcrito de “A Federação”, de 26 de maio de 1936).

origem:

São João Batista de Ajuda era uma fortaleza portuguesa no Daome. A feitoria de São João Batista de Ajuda estava situada a cinco quilômetros da costa africana de Leste ou dos “Papos”, entre os rios da lagoa e do Volta, tendo sido descoberta pelos portugueses quando navegavam na costa da Guine. Era a capital do antigo Reino de daome, edificado numa vasta planície outrora muito povoada de cristãos negros.  O rei D Pedro II de Portugal mandou construir a referida fortaleza a fim de proteger o importante comercio que então os portugueses faziam na Costa da Mina.  A Costa da Mina era um território a beira do Oceano Atlântico no golfo da Guine. Foi ocupado pelos Ingleses que ali estabeleceram importantes feitorias, que passaram a ser defendidas pelas guarnições das fortalezas antes pertencentes a Portugal, entre as quais a de São João Batista de Ajuda.
Daome tem fronteira de um lado com a Nigéria, que e o maior pais da África atual e do outro, com Togo, possessão alemã de antes da primeira guerra mundial, este velho reino africano no começo foi colônia de vários países que se estabeleceram ao longo do seu território a margem do Atlântico, mas em 1876 a Grã-Bretanha terminou a ação que iniciara alguns anos antes, comprando a parte dos demais ocupantes, tornando, então, a Costa do Ouro inteiramente de propriedade dos ingleses, os quais também tiveram de entrar em acordo com os reis e príncipes negros que governam o gentio. Desta determinação britânica resultou a deportação de um rei africano, que somente em 1934 teve autorização para voltar a fim de passar sossegadamente o resto de seus dias na terra natal.
Oba Ovonramwen, escoltado no navio,sendo deportado.

 povo. Entre estes estava o Príncipe de São João Batista de Ajuda, que deixou sua terra na Costa da Mina em 1862 quando tinha 31 anos de idade.
Ninguém sabe como e em que circunstancias este príncipe governante deixou o Porto de Ajuda, que era perto da Costa do Ouro (hoje Republica de Gana), onde em algumas décadas anteriores, funcionava um dos principais locais de embarque de escravos para o Brasil, mas o certo e que ele partiu ante a promessa solene dos ingleses de que o seu povo não sofreria o que haviam sofrido os grupos vizinhos ante a violência dos alemães e franceses. Os portugueses antes poderosos tinham se contentado com uma parte do Guine e com as ilhas de São Tome e Príncipe, cCom outros governantes foram feitos acordos financeiros por eles aceitos a fim de ser evitado o massacre do seuedendo as suas fortalezas.
As condições para que o Príncipe de Ajuda não oferecesse qualquer resistência aos invasores, alem do respeito pela vida dos seus súditos, era a de que ele se exilasse e jamais voltasse aos seus domínios.  E, como parte do convenio, a Grã-Bretanha se comprometia a fornecer-lhe uma subvenção mensal paga em qualquer parte do mundo onde estivesse por intermédio dos seus representantes consulares. Por qual motivo o exilado escolheu o Brasil como sua nova pátria, não se sabe.  Talvez por haver aqui grande numero de descendentes dos escravos nativos da Costa da Mina, os chamados “Pretos Mina” ou outra razão qualquer. Sua chegada a nossa terra foi assinada como acontecida em 1864, dois anos depois de ter deixado Ajuda.
Inicialmente fixou-se em Rio Grande, onde residiu longos anos, transferindo-se mais tarde para o interior do município de Bagé, onde logo ficou popular por manter viva a tradição religiosa do seu povo, com a pratica o que agora se conhece como Batuque, alem de mostrar conhecimentos das propriedades curativas da nossa flora medicinal, atendendo muita gente doente que o procurava, tratando de minorar-lhes os males por meio de ervas e rezas dos ritos africanos.


relato:

Em Bagé, existe um bairro chamado "Passo do Príncipe", em alusão ao seu nome e ainda existe uma "tapera" abandonada em meio a um terreno.  Dizem algumas pessoas que o espírito do Principe ainda ronda o local.
De Bagé mudou-se para Porto Alegre, aonde chegou em 1901 com 70 anos de idade. Era um homem forte, cheio de vida com um metro e noventa de altura o que ainda mais se evidenciava quando usava as vestes originais da sua gente e colocava na cabeça um “fez” de cor encarnada que lhe aumentava pelo menos mais 
vinte centímetros na altura.
Foi morar na Lopo Gonçalves numero 498,(A antropóloga Maria Helene Nunes ( URGS) em sua tese, diz "Custódio era negro, príncipe e babalorixá. através da religião fazia curas e resolvia problemas de toda ordem"). cujos fundos davam para a Rua dos Venezianos (hoje Joaquim Nabuco). Esta artéria era chamada “dos Venezianos” não por causa da popular sociedade carnavalesca que por muitos anos existiu em nossa capital, mas por ter suas casas quase que totalmente habitadas por italianos oriundos da Sicilia e da Calábria, que o vulgo confundia com venezianos (de Veneza), mas logo que o príncipe que havia adotado o nome brasileiro de CUSTODIO JOAQUIM DE ALMEIDA, ali se instalou, passou a rua ser preferida pela gente de cor que procurava com isso acercar-se do homem que, incontestavelmente, era líder da sua raça. O príncipe Custodio como então era chamado, iniciou ali uma nova etapa da sua aventurosa vida, cercando-se em Porto Alegre de um aparato digno de um verdadeiro fidalgo. A família do príncipe de Ajuda aos poucos foi crescendo e não demorou a atingir o numero de 26 pessoas, sem contar os empregados em boa quantidade.
Os fundos da casa onde morava, com saída na Rua dos Venezianos, serviam para a sua coudelaria, pois possuía nada menos do que nove cavalos de raça, alguns impostados da Inglaterra, os quais todos os domingos disputavam as corridas organizadas pela Protetora do Turfe no Prado da independência. Para manter e cuidar esses animais havia um grupo selecionado de empregados, jóqueis, etc., sob a supervisão direta do Príncipe, que se classificava como “Tratador”.  Nos domingos, os cavalos inscritos nos diversos páreo saiam da Rua dos Venezianos, devidamente cobertos por capas tendo as cores oficiais do seu dono e rumavam pela Rua da concórdia em direção a Venâncio Aires, subindo, apos, uma das ruas que ligam o Bonfim a Independência ate chegarem ao Prado nos Moinhos de Vento. O Príncipe custodio teve oito filhos, três homens e cinco mulheres, uma delas residindo em São Paulo e outra no Rio de Janeiro.
Seus conhecimentos de idioma português não eram muito corretos, porem podia expressar-se fluentemente em inglês e Frances, alem de falar ainda vários dialetos das tribos africanas que havia governado.  Gostava de ir pessoalmente as compras, quando isso acontecia, se fazia acompanhar de dois fortes homens, os quais alem de o custodiarem, serviam para transportar as mercadorias compradas em grandes balaios.
As festas que levava a efeito periodicamente em sua casa, notadamente na data de seu aniversario, eram verdadeiramente pantagruelicas. Durante três dias, com o prédio sempre cheio de gente, da manha à noite, se comia e bebia do bom e do melhor ao som dos tambores africanos que batucavam sem parar naquelas setenta e duas horas. E nesses dias, o Príncipe recebia a visita de gente mais ilustre da cidade, inclusive do presidente do estado Borges de Medeiros que, conhecendo a ascendência daquele homem sobre a população de cor, ia felicitá-lo, talvez mais por motivos políticos do que por outra coisa.  Naquelas festejadas datas era certo o comparecimento na Rua Lopo de muitas senhoras e cavalheiros da melhor sociedade porto-alegrense, alem dos capitães da indústria e do comercio que dele precisavam o apoio para perigos de greves e outras imposições. As mais finas bebidas eram importadas diretamente da Europa, especialmente destinadas a serem degustadas naquelas ocasiões especiais, embora elas nunca faltassem à mesa do Príncipe exilado.
A casa do Príncipe vivia sempre lotada de gente, de visitantes e de pessoas que ele encontrava nas ruas e lhe pediam auxilio. Mandava essas pessoas embarcarem na carruagem em que estivesse e as levava para a sua residência, onde sempre havia lugar para mais um.  Entre os que viveram muito tempo junto ao homem meio gigante da Rua Lopo, estava um branco, descendentes de alemães oriundo de São Sebastião do Cai, que tinha feito estudos de medicina e dessa maneira o auxiliava no atendimento aos doentes que continuamente o procuravam em busca de remédios e dos “trabalhos” do chefe africano no exilado.
Para os rigores do inverno, o príncipe Custodio adotou o poncho gaucho, embora não dispensasse o gorro que marcava a sua personalidade, não deixando nem quando visitava o palácio da Praça da Matriz onde sempre era bem vindo e onde havia ordens superiores de bom atendimento, e onde ele muitas vezes usava seu prestigio para conseguir alguma coisa que lhe fosse solicitada por qualquer membro da sua comunidade..
Durante todos os anos em que viveu em Porto Alegre, 31 ao todo, nunca manteve correspondência ostensiva com parentes ou amigos deixados nas terras africanas. De la recebia informações e daqui enviava noticias suas em mãos por intermédio de marítimos que tripulavam navios vindos a nossa metrópole, transportando e levando mercadorias.
Também nunca se soube o teor dessas correspondências. De incentivo ao seu povo para uma possível rebelião não era, pois ele sabia ser isso humanamente impossível. Alem disso a Inglaterra, em todo o longo período do seu exílio, sempre cumpriu religiosamente o que fora estipulado. Mensalmente o consulado britânico local, entregava-lhe um saquinho cheio de libras esterlinas, cuja troca em mil-réis servia para manter a pequena corte da Rua Lopo, a família numerosa, os agregados, os empregados, e ainda serviam aqueles que o procuravam nos momentos de apertos financeiros.
No verão, em janeiro, o programa era conhecido.  Todos iam para a casa de propriedade do Príncipe, na Praia de Cidreira. A viagem para o balneário era qualquer coisa de sensacional e folclórico. Embora fosse dono da carruagem e tivesse dinheiro para alugar quantas diligencias quisesse, o príncipe gostava de viajar em carretas puxadas por bois na mais calma e na mais incrível lentidão. E ainda mais, a viagem era feita por etapas em ritmo de passeio, parando em muitos lugares onde ele era sempre esperado com festas e cerimônias religiosas africanas, muita comida e muita bebida, pois todos sabiam que tudo seria pago pelo viajante ilustre. Dessa maneira nunca o trajeto de Porto Alegre a Cidreira era feito em menos de uma semana. Quando eram gastos apenas cinco dias, considerava-se um recorde de velocidade.
Com as carretas de transporte dos passageiros seguiam outras carregadas de mantimentos, inclusive muitos sacos de milho e dezenas de fardos de alfafa, aos cuidados dos empregados, pois os cavalos de corrida do Príncipe também iam aos banhos de mar. Isso, ele como treinador e tratador fazia questão fechada.
A maior festa que a Cidade Baixa já viu foi quando o Príncipe completou cem anos de idade. Nesse dia muita gente de bem foi abraçá-lo em sua casa e ele, dando demonstração de sua vitalidade exuberante, montou a cavalo sem receber qualquer ajuda. Alias, isso ele fez ate poucos dias antes da sua morte, quatro anos depois.
 
No dia 26 de maio de 1936, morreu o príncipe Custodio, aos 104 anos. Seu velório e seu enterro, atendendo ao pedido expresso do morto, foi feito dentro das tradições africanas com muito batuque e muitos trabalhos em intenção a sua alma.  Com ele desapareceu uma das figuras mais impressionantes e esquisitas da nossa cidade. Um metro e noventa de altura, com mais de cem quilos de peso, embora não fosse um homem gordo. E muita gente ficou desamparada, pois a subvenção paga mensalmente em libras pelo governo inglês extinguiu-se com a morte do Príncipe de Ajuda. Se foi ele quem fez o assentamento de um Bará no mercado público de Porto Alegre, onde todos os adeptos dos cultos africanos (de quase todas as bacias) fazem reverencia cada vez que terminam uma obrigação aos seus Orixás. Isso de certa forma indica que se não foi o introdutor das raízes africanas no estado deve ser um dos primeiros.      ( fonte: A federação)
MÃE CHININHA DE XANGÔ AGANDJÚ IBEIJIS

JOÃO DE BARÁ AGELÚ NÍ BÍ  (Exú By)
Quando se fala em Nação Jêje do Rio Grande do Sul, logo vem o nome do Pai de Santo mais famoso desta nação que foi o Pai João de Bará Ni Bi (Exu Bý), que sem dúvidas foi a maior expressão Jeje. Conhecido no Brasil e em outros países, filho de Santo de Mãe Chininha de Xangô Agandju Ibeijis. Pai João do Bará doutrinava muito bem seus filhos de santo. Ensinava muito bem seus filhos a puxar as rezas dos Orixás e a tocar tambor. 
Ele tinha uma técnica de ensinar os filhos tocando na mesa com duas colheres e no outro dia já os colocava a tocar no tambor com os agidavís. João de Bará e Tia Licinha, sua irmã, tocavam Jêje juntos, e diziam na época que era um dos melhores rituais quando esses dois se juntavam na mesma obrigação.Dos pais e mães de santos atuais, da nação Jêje do Rio Grande do Sul, muitos desconhecem a palavra Vodun; deve-se este fato ao predomínio da nação Ijexá, de origem Yorubá que acabou absorvendo as demais, e o termo vodun com o passar dos tempos, deixou de existir; mas é certo que a linguagem utilizada nas rezas e o uso das AGIDAVIS, para toque dos tambores RUM - RUMPI e LÊ (instrumentos de percussão), entre outros fatos refletem muito os fundamentos do antigo Daomé.

Há casos em que as tradições culturais africanas resistem mais que em outros, à mudança, mas em nenhuma instância, nem mesmo nos terreiros mais antigos e ostensivamente zelosos à suas origens, deixou de existir, contudo, se tivesse, no sul um maior interesse em pesquisar a origem dos fundamentos de cada nação é certo que achariam a ligação direta do jêje praticado aqui, com os povos do antigo Dahomé, e assim por diante. O que sobrevive da vertente jêje como legado cultural acha-se associado ao acervo Yorubá, embora não se fale em Voduns no Rio Grande do Sul.

PAI NELSON DE XANGÔ OROFOMI
No dia 25 de agosto de 1924, em Porto Alegre, nasciam Nelson e Wilson Gomes, filhos gêmeos. 
Logo ao nascerem ficaram órfãos sendo criados por seu Avô materno Antoninho de Oxalá, um servidor da linha Jeje.  Estes dois meninos foram entregues a Xangô e Oxum respectivamente.  Nelson para Xangô com Oxum e Wilson para Oxum com Xangô.
Nelson de Xangô foi filho de Santo do Avô Antoninho de Oxalá até chegar as mãos de Pai João de Bará Agelú Ni Bi.



6 comentários:

  1. Uma pergunta por favor, já que vocês escreveu todo este texto:
    Como poderia o pai do Príncipe Obá Ovonramwen, Oba de Benim (pai do principe Custódio) ser um rei dos EDO (BENIN) e dar descendência de um culto Vodún do Dahomey????? Existe um confusão gigantesca no seu texto, uma vez que Obá Ovonramwen (Rei Edo do Benin [Estado] na Nigéria) e o culto Vodun ser da "Rep. Pop. do Benin [País] antigo Dahomey)??? As pessoas escrevem as coisas sem ao menos pegar um mapa na mão e ver que Nigéria e Rep. Pop. do Benin são países diferentes. Sugiro ler um material:

    http://ileaseekundeyi.files.wordpress.com/2013/04/redescobrindo-o-culto-nago-do-principe-culstodio.pdf

    Abraço!

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  2. Realmente está certissimo Mogba Rudi Omo Sangô

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  3. sugiro aumentar a fonte do seu texto, para melhor leitura,

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  4. Parabéns, muito bom irmão!

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  5. Estou apaixonado por toda essa história.

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